terça-feira, 20 de dezembro de 2022
segunda-feira, 19 de dezembro de 2022
"A gente ama não é a pessoa bonita, é a pessoa que sente bonito, que olha bonito, que toca bonito, que nos ouve bonito.
A gente ama é a luz que brilha na curva do sorriso quando a pessoa nos avista de longe.
A gente ama é a leveza do olhar que como asa de borboleta toca de leve as nossas dores.
A gente ama é o calor, o afago do abraço que nos envolve e protege como casa.
A gente ama é a sabedoria das palavras que não são ditas num longo diálogo silêncioso.
Edna Frigato
sábado, 17 de dezembro de 2022
CRÓNICA DA POMBA BRANCA
O sítio onde moro em Lisboa é uma aldeia.
Tem mercearias, lojecas, cabeleireiros pequenos, uma constelação de restaurantezitos, sapateiros, costureiras, capelistas. Não o habita pessoas ricas, o que se percebe pelos automóveis, pela roupa, pelas caras. Toda a gente se conhece.
(Ainda bem que as vacas não voam)
Gatos à Stuart Carvalhais e, no que respeita ao meu quarteirão, do algeroz para cima sou o melhor escritor. Ignoro se sabem o que faço, julgo que têm uma ideia vaga. Há quem me trate por Senhor Doutor e quem me trate por Senhor António. Prefiro Senhor António: afinal de contas sou um carpinteiro.
Aqui ao lado, sempre que saio, um grupo de reformados joga à moeda. Digo
- boa noite meus senhores
Desbarretam-se
- boa noite Senhor Doutor
E o jogo continua atrás de mim solene. É a hora alegre e triste em que os candeeiros começam a acender-se e uma fininha melancolia, como escreveu o Poeta Cabo-Verdiano Jorge Barbosa (quem aquí não sentiu esta nossa fininha melancolia)
Entra devagar em nós, doce, quase agradável, com a lembrança das pessoas de quem gostamos dentro, transparentes, a sorrirem.
Caixotes do lixo cambulhando para a rua.
Mulheres sentadas na soleira e o Senhor António passando por elas com o livro na cabeça e a saudade dos mortos.
Há armazéns também, eternamente fechados.
Nas janelas iluminadas, lustres, ângulos de armário, prateleiras forradas e eu cheio de ternura por aquilo tudo.
Nem um pingo de vento nas árvores.
O que estarás a fazer? A entrar em casa, a jantar? Daqui a pouco os dias desatam a tornar-se pequenos e o cinzento deles a desbotar no meu peito, a fininha melancolia engrossando. Jorge Barbosa
Onde pára aquela que morava do outro lado da cidade; acolá no alto, de onde se via o mar? E onde páras tu, Senhor António? Metes a chave no buraquinho, entras e a sala enorme, escura. Livros, quadros, retratos, cortinados escondem os prédios em frente, o escritório negro, negro. Onde pára aquela que morava lá do outro lado da cidade, acolá no alto, de onde se via o mar? Fininha melancolia vem e cobre-me. Não me abandono neste momento que preciso de coisas suaves, dedos na minha testa, uma voz que me garanta ter um lugar no mundo. Não derivado aos livros, pelo menino que sou. Que desamparo às vezes:
Tenho esperança de escondê-lo bem. Sou tão importante Eu, sou um grande autor e acabei de nascer. Uma impressão num dente mas a perspectiva da broca
- ora cá temos uma cáriezinha
Desagrada-me. E os caixotes do lixo cambulhando para a rua.
Vivo só.
Não me custa.
Quer dizer as vezes, à noite, custa, mas faz de conta que não custa.
Ando a escrever um livro que não faço a menor ideia quando acabarei: são tão difíceis as palavras e demorei anos a dar conta disso.
Ao princípio era canja. Até a gente perceber que há uma diferença entre escrever bem e escrever mal: então começa a angústia. Um pouco mais tarde percebe-se que há uma diferença, ainda maior, entre escrever bem e obra-prima : então a aflição é completa. De forma que lá ando eu, de caneta na mão, na minha Aldeia do centro da Cidade em que acabado o jantar as mulheres da vida, travestis. Bares de alterne perto com uma fila de táxis, e tudo isso cheira a miséria rasca.
Onde pára aquela que morava no alto da cidade? Num degrau à espera? Nasci de uma mulher é há ocasiões em que me esqueço disso. Devia lembrar-me o tempo inteiro.
Onde pára o meu pai que, de certeza, se foi embora do cemitério para a companhia dos seus cachimbos, dos seus livros? Dizia
- bem vês
E fazia um silêncio antes de continuar.
Bem vejo o quê, Pai?
Os pais estão entre nós e a morte.
Se calhar um homem só se torna homem depois de o pai morrer, homem no sentido mais profundo do termo, qualquer que tenha sido a nossa relação com ele. Depois do enterro do meu avô o meu pai fechou-se no escritório e pôs BACH tão forte que se devia ouvir na Venezuela. Ficou para ali horas a ensurdecer o mundo. Quem aqui não sentiu esta nossa fininha melancolia?
Chamo-me ANTÓNIO.
Ao encontrar-me de manhã para a barba penso
- chamo-me António
Um nome comum, de pobre. Se fosse rico chamava-me Bernardo ou Lourenço ou Gonçalo.
Assim, consolo-me com António. Apesar de tudo parece-me menos feio que Hernâni.
O que importa? Chamo-ME EU.
E o Eu debruçado para o papel nas redacções em que tenho gasto a vida.
ANTÓNIO porque os meus dois Avôs eram Antónios.
O que será de mim?
Gosto de andar onde moro, não penso mudar-me mais, assenta-me bem nos ombros. António não: Senhor António.
Olha, se calhar envelheci.
Cruzes canhoto: envelheci uma ova. Tenho quinze anos e vou para o treino de hóquei no Benfica. Nos intervalos não estudava e compunha versos, furioso com a sua mediocridade. O mendigo do costume pede cigarros: dou-lhe o que estou a fumar. Não fala, murmura, quase não se aguenta nas canetas. Nem sequer cheira mal, isto é, anda tão sujo que está para além dos cheiros. Olhinhos piscos, dedos incertos. Isto junto do templo adventista onde nunca vi ninguém entrar, frente à umas escadinhas que conduzem sei lá onde.
Que bonitos pés das mulheres agora, em julho, que linda a sua forma de andar.
Poiso a caneta, olho minhas mãos. Estão vazias. Mas tenho a certeza que, se as juntar,
Ao abri-las sai uma pomba branca.
Como os ilusionistas do circo na época em que eu menino, aí está ela, cheia de arrulhos,
a bater as asas em mim.
ANTÓNIO LOBO ANTUNES
terça-feira, 13 de dezembro de 2022
NATAL DA MINHA INFÂNCIA
Quem dera que na cozinha
Crepitasse o lume aceso
E ao canto na cadeirinha
Brilhasse o olhar surpreso
O meu pai tão engenhoso
Lá em cima do telhado
Fizesse descer vistoso
O presente desejado
A minha mãe divertida
Sem eu nada perceber
Dizia: -reza querida
Que o presente vai descer
De mãos postas a orar
Com fervor ao Deus Menino
Eu nem queria acreditar
Nesse presente divino
E na chaminé descia
Pela corda na cestinha
Enquanto uma voz dizia
Uma prenda p'rá Nádinha
Quanta saudade Deus meu
Sinto agora ao recordar
Esses pais que Deus me deu
Que já não posso abraçar
Maria Letras, UK
Art. (Jozseph Borsos)
sábado, 10 de dezembro de 2022
NO CÉU EU TENHO ESTRELINHAS
Aguardem-me estrelinhas lá no céu
Que em breve eu irei juntar-me a vós
A saudade que atormenta o peito meu
Só espero que no céu que eu imagino
Não se saiba nem o nome da saudade
Para que eu, lá não viva em desatino
Carregando a minha cruz com ansiedade
Os que cá deixo são, assim como vocês
Pedaços de tudo quanto existe em mim
E quando eu for, eu acho que outra vez
Não saberei como à saudade dar um fim
É por isso que eu quero que lá no céu
Não haja dor, sofrimento, nem saudade
E assim se cumpra este desejo meu
De, com vocês, ir brilhar na eternidade
Maria Letras, UK , Stanwell, 09.12.2019
Art. (Desconheço autoria)
segunda-feira, 5 de dezembro de 2022
domingo, 4 de dezembro de 2022
Erva Luisa
O chá fica muito saboroso, mesmo sem adoçante. Bebo a qualquer hora e agora com o frio, ainda sabe melhor. Pode ser feito com a planta verde ou seca. No Verão, também pode usar-se como bebida fresca.
A planta é arbustiva e muito resistente. A minha já tem muitos anos. Basta podar porque cresce bastante e no Verão regar um pouco. Dá-se bem em qualquer terreno, desde que bem drenado. Gosta de sol pleno ou meia sombra.
A reprodução da planta faz-se por estaca, no inicio da Primavera, aproveitando os galhos da poda, que deve ser feita nessa época.
Penso, ter falado do essêncial sobre a planta.
sábado, 3 de dezembro de 2022
Chove chuva
O céu está fechado, escuro
Me parece vai chover no meu jardim,
Depois que você me deixou
Nunca mais choveu em mim
Como esquecer todas as noites
Que a gente se amava sem pensar. Não tinha luz fazia frio
E a chuva nos molhava
Chove chuva chove Vem lavar esta saudade
Leva do meu peito
As lembranças que me invadem
Chove chuva chove Vem lavar esta saudade
Leva do meu peito
As lembranças que me invadem, por favor
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